Aconteceu na última quinta-feira (10) a formatura de 475 mulheres do curso "Eu ProgrAmo", turma Análise de Dados, oferecido pela PrograMaria. A iniciativa é uma conquista do movimento sindical bancário, da última Campanha Nacional Unificada, na qual a categoria conquistou na Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) o compromisso dos bancos de oferecer bolsas de estudos para que mulheres possam se profissionalizar nas áreas da Tecnologia da Informação (TI).
"Esses programas são mais do que ações de capacitação. São instrumentos de justiça social, criados para enfrentar as desigualdades estruturais que afastam as mulheres — especialmente as mulheres negras, trans, PCDs e periféricas — do setor tecnológico", declarou Fernanda Lopes, secretária da Mulher da Contraf-CUT, representando o Comando Nacional dos Bancários, durante seu discurso na cerimônia de formatura do curso, que ocorreu de forma online.
"Hoje é um dia de celebração. Estamos aqui para compartilhar com orgulho o resultado de uma luta sindical concreta, construída com persistência, diálogo e compromisso com a transformação social. Após muita insistência na mesa de negociação com os bancos, conquistamos um avanço histórico: garantir maior oportunidade para mulheres na área de Tecnologia da Informação", disse ainda a dirigente.
Mais mulheres na TI
Em 2024, durante a Campanha Nacional Unificada para a renovação da CCT, o Comando Nacional dos Bancários conquistou, dos bancos, o compromisso de investirem em bolsas de estudos voltadas para mulheres na TI.
Com isso, foram criadas as cláusulas 100 e 101, na CCT, para a concessão de 3.000 bolsas de estudos de formação de mulheres em programação, na escola PrograMaria, e outras 100 bolsas de formação avançada para mulheres em tecnologia, na escola Laboratória.
Ainda durante a cerimônia da recente formatura, Fernanda Lopes ressaltou dados que mostram a diversidade atingida na turma de 475 mulheres que receberam o diploma na PrograMaria:
67% das alunas formadas são mulheres pretas e pardas;
33% fazem parte da comunidade LGBTQIAPN+;
9,4% são pessoas trans;
29% são mães ou responsáveis;
40% vivem em zonas periféricas; e
14,5% são pessoas com deficiência.
Em termos geográficos:
25% das alunas vieram dos Estados do Nordeste;
5% da região Norte;
5% do Centro-Oeste;
7,5% do Sul; e
57,5% do Sudeste.
Por que mais mulheres na TI: cenário do setor
Ao longo da Campanha Nacional dos Bancários e Bancárias de 2024, o movimento sindical identificou a queda na contratação de mulheres no setor, enquanto há um fenômeno de aumento de contratação nos bancos nas áreas de TI.
“A ampliação das áreas de TI no setor financeiro é um caminho que está atrelado ao momento histórico que estamos vivenciando, de uma renovação dos setores industriais e de serviço diante da nova onda tecnológica. Ao mesmo tempo, as mulheres sempre tiveram baixa representatividade nos setores de tecnologia, por fatores estruturais e machistas e que fizeram com que, hoje, a tecnologia seja dominada por homens. Diante desse quadro, nós reivindicamos que os bancos invistam na formação de mulheres", explica Fernanda Lopes.
A dirigente completa que a ampla concorrência pelos cursos, assim que foram anunciadas as bolsas de estudos, revelou que existe uma demanda clara de mulheres que se interessam pela área, mas que não tiveram, antes, oportunidade ou espaço acolhedor para seguirem seus sonhos.
Uma pesquisa divulgada pela Brasscom, com dados de 2023, apontou que as mulheres ocupam 39% dos empregos no setor de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Já o levantamento, realizado pelo Serasa Experian, de março de 2024, e que fez um recorte apenas para a área de Tecnologia da Informação (TI), revelou que a representação feminina neste setor é de apenas 0,07% - correspondendo a 69,8 mil profissionais do país.
No setor bancário, um estudo do Dieese aponta que, em 2012, a proporção de profissionais de TI nos bancos privados era de 5,1% do total de trabalhadores bancários. Em 2023, essa participação saltou para 12,0%. No entanto, a proporção de mulheres nas ocupações de TI apresentou queda no mesmo período, passando de 31,9% em 2012 para 25,2% em 2023, o que significa que para cada quatro trabalhadores de TI, apenas um é mulher.
Fonte: CONTRAF |