| Os bancários estão entre as categorias com maior número de afastamentos  por doenças mentais relacionadas ao trabalho no Brasil. Dados do  Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), compilados pela plataforma  Smartlab, mostram que gerentes de banco ocupam o segundo lugar e  escriturários o terceiro no ranking de profissionais com mais pedidos de  afastamento por transtornos mentais reconhecidos como doença  ocupacional (B91) entre 2012 e 2024.
 O levantamento aponta que o top 5 das categorias com mais afastamentos  por saúde mental no período é composto por motoristas de ônibus,  gerentes de banco, escriturários de banco, técnicos de enfermagem e  vigilantes.
 
 O crescimento recente é alarmante: entre 2023 e 2024, o total de  afastamentos por transtornos mentais (somando benefícios relacionados ou  não ao trabalho) saltou de 283 mil para 471 mil, um aumento de 66% em  um único ano.
 
 Segundo o INSS, o enquadramento como doença ocupacional (B91) ocorre  quando a perícia médica reconhece que o problema de saúde tem relação  direta com o trabalho. No caso dos gerentes de banco, 37,76% dos 13 mil  afastamentos foram classificados como B91 — a maior proporção entre as  categorias analisadas. Já entre os escriturários, apenas 18,77% dos  quase 23 mil casos tiveram o mesmo reconhecimento.
 
 Para o secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles, os dados  revelam uma crise silenciosa de saúde mental que reflete o modelo de  gestão adotado nos bancos. “Até quando iremos assistir a essa situação e  não enquadrar as empresas? Isto não é coincidência, é sintoma de um  problema estrutural”, alerta o dirigente.
 
 Salles defende que as instituições financeiras assumam responsabilidades  concretas e adotem medidas efetivas para prevenir o adoecimento  psíquico. “Chegou o momento de exigir que as instituições adotem  sistemas de prevenção de adoecimento psíquico — gestão de riscos  psicossociais, revisão das metas, combate ao assédio e vigilância  algorítmica. Elas precisam responder pelos efeitos dos seus modelos de  negócio sobre a saúde dos trabalhadores”, reforça.
 
 Para ele, o Estado e os órgãos fiscalizadores também precisam agir. “Não  basta acompanhar. É preciso intervir. É inadmissível que trabalhadores  bancários e de outros segmentos econômicos carreguem o peso de lucros,  automação e metas agressivas sem que exista regulação eficaz,  fiscalização incisiva e sanções reais”, afirma.
 
 A Contraf-CUT vem alertando há anos para os impactos do excesso de  metas, da sobrecarga de trabalho e das novas tecnologias de controle  sobre a saúde dos bancários. A entidade defende o fortalecimento das  políticas públicas de saúde do trabalhador e a aplicação efetiva da Lei  nº 11.430/2006, que criou o Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário  (NTEP), mecanismo que deveria facilitar o reconhecimento de doenças  relacionadas à atividade profissional, mas que, segundo especialistas,  vem sendo subutilizado.
 
 “Existe um apagamento do nexo técnico epidemiológico”, afirmou a médica  Maria Maeno, pesquisadora da Fundacentro, reforçando que o adoecimento  mental relacionado ao trabalho ainda enfrenta grande dificuldade para  ser reconhecido, tanto pelas empresas quanto pela Previdência Social.
 
 A Contraf-CUT defende que o combate ao adoecimento mental seja tratado  como prioridade nas mesas de negociação e que as autoridades públicas  intensifiquem a fiscalização e responsabilização das empresas.
   Fonte: CONTRAF |